Quem acompanha o mercado editorial de quadrinhos no Brasil já sabe que está havendo uma onda de adaptações literárias para gibis. Machado de Assis, Eça de Queiroz, Jorge Amado, são alguns dos autores que tiveram suas obras adptadas. Só o conto “O Alienista”, de Machado de Assis, ganhou umas três versões em quadrinho no ano passado.
Acho que essa tendência pode ser explicada, em parte, pelo PNBE, Programa Nacional Biblioteca da Escola. Para incentivar a leitura, o governo compra livros e quadrinhos e distribui para as escolas do país. Visando essa compra pelo governo, as editoras apostam nas adaptações literárias. O raciocínio é banal: se é para ser lido na escola, que seja Machado de Assis, Eça de Queiroz ou Jorge Amado.
“O Cabeleira”, como os poucos leitores desse blog estão cansados de saber, é uma adaptação do romance de Franklin Távora. A diferença é que essa adaptação não foi pensada para quadrinhos e muito menos visando o PNBE (mas é claro que ficaremos muito felizes se o governo decidir levar nosso álbum para as crianças!). A Desiderata, quando nos convidou para publicar nosso roteiro em quadrinhos, também não pensava em vendas para o governo. O que Marta Batalha e Lobo queriam era publicar bons quadrinhos de autores nacionais.
Mas o fato é que agora Hiroshi e eu fazemos parte do time de autores que adaptaram obras literárias para os gibis. Por isso, já participamos de debate na Travessa, demos entrevista para o Starte do GNT e agora fomos convidados para participar de um curso de quadrinhos do grupo Estação. Falaremos sobre “Graphic Novel” e, é claro, adaptação (quando tivermos mais detalhes sobre esse curso, postaremos aqui, não se preocupem!).
E agora descobri, na internet, que entre os dias 16 e 19 de Junho acontecerá o 3º Seminário de Literatura Brasileira, na Universidade Estadual de Montes Claros. Nesse ano, o Seminário vai discutir as representações do sertão e do norte do Brasil na literatura nacional. Para a minha surpresa, a doutoranda da USP Jane Adriane Gandra, professora do curso de Letras da Unimontes, vai falar sobre o nosso quadrinho!
No site do Seminário, essa é a descrição da palestra que a professora fará:
O cabeleira, de Franklin Távora, nas histórias em quadrinhos
Importantes obras de Machado de Assis, como o Alienista e Memórias póstumas de Brás Cubas, já foram convertidas para a linguagem das histórias em quadrinhos e a lista só tende a aumentar com outros nomes consagrados. Nos dias atuais, não há como negar os muitos projetos apresentados pelas editoras nas promoções de adaptações dos clássicos da Literatura Brasileira para o mundo dos gibis. Sobre isso, as defesas são inúmeras, a mais utilizada é sobre o fato de estarem elas contribuindo para a popularização de uma literatura distanciada da maioria de nossos leitores, principalmente dos adolescentes. Assim, sob o formato dos grafich novel, muitos romances, considerados “monótonos” e complexos por este público, ganham uma forma ilustrativa e simplificada, bem ao estilo teens. Seguindo a tendência, em 2007, a editora Desiderata lançou no gênero dos quadrinhos O cabeleira, de Franklin Távora – romance regionalista inspirado na trajetória do cangaceiro José Gomes. Com base no exposto, e considerando que toda adaptação não deixa de ser um outro texto – novos olhares contando algo que já foi narrado – é nossa proposta, neste ensaio, analisar quais elementos narrativos do livro de 1876 foram modificados pelo sincretismo instituído entre o verbal e o visual das HQs.
Estou muito curioso para saber a que conclusões a professora terá chegado!
Junho 9, 2009 às 8:46 pm
Que fantástico ! Parabéns!
Celia
Junho 10, 2009 às 7:02 pm
Muito chiques vocês! bjs
Junho 12, 2009 às 2:19 pm
Descobri o blog agora, Leandro. Já tá bookmarcado.
Que bom que algo de bom está vindo de vocês terem sido confundidos com essas adaptações a metro que estão rolando. O trabalho de vocês é de outra ordem e não vem nessa onda simplista/semididática. O site tá muito fino também. Parabéns aos dois por tudo.
Abraço.